Apesar do avanço no entendimento dos mecanismos envolvidos na gênese da obesidade e do aprimoramento das técnicas de tratamento dos distúrbios relacionados ao metabolismo energético, pouco progresso tem sido alcançado no que se refere à contenção do crescimento da obesidade no mundo.
A prática de exercícios físicos constitui uma opção que se dispõe para intervir no controle do peso corporal. Algumas vezes, tenta-se subestimar a participação dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal, ao limitar sua contribuição exclusivamente à demanda energética do trabalho mecânico realizado.
As prescrições de exercícios de alta intensidade estão em alta nos dias atuais. Recebi emails de alguns profissionais, com dúvidas sobre um artigo sobre esse assunto que foi tema da minha dissertação de meu mestrado de 2002. A dúvida maior seria o fato do meu trabalho, ser o pioneiro no Brasil sobre o tema da prescrição de exercícios de alta intensidade, mas pode até ser que eu tenha publicado o primeiro artigo no Brasil.
Aproveitando o "boom" do momento, vou dissecar as razões que na época me motivaram a pesquisar a alta intensidade vs a intensidade moderada no quesito “queima de gordura”. Vamos então explicar como tudo se deu para motivar novos pesquisadores a investigarem esse e outros temas relevantes para a prescrição do exercício no combate à obesidade.
Em 1999, prescrevendo as recomendações de treinamento para obesos vigentes na época, seguíamos as lições aprendidas nos bancos escolares e nos livros de fisiologia do exercício. Ou seja, o metabolismo predominante DURANTE os exercícios de longa duração e moderada intensidade (60 a 70% da freqüência cardíaca máxima) era o lipolítico e ainda é. Então era uma unanimidade entre os profissionais que para se "queimar" a gordura, o exercício deveria haver essas 2 condições: 1 - intensidade de 60-70% da Frequência cardíaca máxima (a famosa zona alvo de treinamento) e 2 - duração mínima de 30 minutos. Tudo isso preconizado também pelo nosso consenso do ACSM (American College of Sports Mecicine).
Após algumas sessões, um dos indivíduos que eu orientava me indagou se ele não iria emagrecer se fosse mais rápido que a zona de treinamento recomendada? Isto fomentou o meu "faro" investigativo.
Nessa época, encontrei uma publicação do Dr Tony Meireles dos Santos, onde já naquela época (2001), ele havia relatado que em relação ao entendimento do processo de emagrecimento, o discurso dos profissionais de saúde tinha como paradigma duas grandes correntes de recomendação para o emagrecimento, até então não documentadas e/ou declaradas formalmente: uma baseada na matemática energética entre o que é gasto e o que é ingerido e a outra que visa maximizar o metabolismo das gorduras. Essa publicação me auxiliou em muito, pois foi o primeiro texto a esclarecer alguns pontos dessa grande dúvida.
Então foi quando resolvi investigar a fundo essa questão e ingressei no mestrado sob a orientação do Dr Martim Bottaro. Na pesquisa de campo então comparamos 2 grupos. 1 grupo realizando ex fis de moderada intensidade, ie, de 60 a 70% da FCMáx (seguindo a linha do ACSM) e outro grupo realizou ex fís. de alta intensidade, ie, de 75 a 90% da FCMáx (acima da zona lipolítica). Para evitar um viés, isolamos a variável gasto calórico do exercício. Dessa forma, os 2 grupos realizaram o mesmo trabalho, ou seja, percorreram a mesma distância para não que não houvesse diferença no gasto calórico do exercício entre os grupos. A composição corporal foi obtida utilizando-se o método da Absortometria Radiológica de Dupla Energia (DXA). Esse método é de alta precisão para avaliar a composição corporal.
Após as 14 semanas, os resultados deste estudo mostraram que ambos os grupos obtiveram redução no percentual de gordura corporal, porém apenas o grupo de alta intensidade obteve redução significativa da gordura corporal. Mas qual a explicação fisiológica que chegamos? Se o gasto calórico durante o ex foi o mesmo, a grande diferença foi no gasto calórico após o exercício. Examinar o gasto energético apenas durante o exercício físico não nos fornece o quadro completo. O metabolismo permanece temporariamente elevado após o término da atividade. Esse fenômeno foi denominado como débito de oxigênio, mas precisamente chamado de Consumo Excessivo de Oxigênio do Pós-exercício (EPOC). O retorno da taxa metabólica de volta ao nível pré-exercício pode exigir vários minutos após um exercício leve como a caminhada; no entanto, várias horas ou dias, após um exercício muito intenso.
O chamado equilíbrio energético pós-exercício ocorre em razão de os esforços físicos, durante sua ação, necessitarem de respostas metabólicas que venham a mobilizar os substratos energéticos necessários à produção de ATP, que muitas vezes pode alcançar valores 10 a 15 vezes maiores do que os índices de repouso. No entanto, após sua realização, é necessária quantidade significativa de energia, com o objetivo de: 1)recuperar os níveis de fósforo-creatina; 2)repor as reservas energéticas; 3)atender a mais elevada síntese protéica dos músculos; e 4)restabelecer os níveis hormonais alterados pelos esforços físicos.
Essa foi uma pequena abordagem sobre esse tema tão comentado ultimamente. Na verdade após uma busca na literatura, para mim o grande pioneiro e investigador que publicou sobre o assunto foi o PhD Angelo Tremblay do Canadá, onde pude me basear minhas discussões em suas publicações.
Mas antes de começar um programa de treinamento, é
indispensável exames médicos para se observar o estado clínico do beneficiário. Lembrando que o excesso de peso e o exercício físico causa sérias lesões nas articulações se não for bem orientado. Finalmente, deve-se respeitar a tríade do sucesso, formada pela qualidade do
treinamento, que deverá ser realizado por profissional competente; alimentação
correta prescrita por um nutricionista e repouso.